terça-feira, 18 de outubro de 2011

Para alguém que ficou pra trás


Eu te perdi de várias maneiras possíveis. Perdi o contato, perdi de alcance e perdi de vista. Primeiro me culpei muito por isso, por ser tão descuidada e te deixar por ai. Depois te culpei, você que era um imbecil e idiota que conseguiu se perder, mesmo eu estando sempre tão próxima. E tive raiva, meu Deus, muita raiva. Mas hoje eu lembrei de muita coisa entre a gente e não senti mais nada. Nada de raiva.  Só um pouquinho de remorso por não ter aproveitado mais, quero dizer, eu me preocupei muito com o longo caminho que tínhamos pela frente e tratei de ir devagar. Agora eu me pergunto: Que longo caminho?! Isso nunca existiu. No máximo uma caminhada até a esquina. Por que diabos eu fui devagar? Do que adiantou respeitar cada sinal, cada placa? Na-da.
Deveria ter corrido. A mil por hora. Atropelando tudo pela frente. Quem sabe não teria atropelado aquele sentimento estúpido que me colocou na sua mão por tanto tempo? Deveria ter corrido mais rápido que a velocidade do som, só pra não ouvir tudo que me disse. Ah, e foi tanta coisa... Quem sabe assim não teria sofrido tanto por tanto tempo. Não devia ter esperado sinal verde nenhum, devia ter avançado mesmo e você que se preocupasse em acompanhar meu ritmo. Ai sim, queria ver se ia conseguir.
Mas tem um restinho de mim que ainda sonha em parar ao teu lado em um sinal vermelho da vida, e que você decida abaixar o vidro e vir falar comigo, só pra dizer que quer dar uma desacelerada na rotina e adoraria fazer isso comigo. Aí, meu bem, eu vou ser mau, vou acelerar mesmo. Dane-se o sinal vermelho e você. Descobri que você é devagar demais pra mim.  E eu cansei de pisar no freio pra te acompanhar. Minha velocidade está muito além da sua e eu só queria te avisar que em estrada livre, quem anda a oitenta quilômetros por hora fica pra trás, estou a mais de duzentos e agora não reduzo por mais ninguém. Nem por você.


domingo, 9 de outubro de 2011

Carta a um anjo com nome de flor


   
Você dizia sempre que não vivia sem a gente, mas nunca soube se a gente viveria sem você. Olha, vou te dizer, ta sendo difícil. Tanta coisa que aconteceu e eu queria te contar, tanta coisa aconteceu e eu só queria te abraçar. Só mais uma vez. Queria tanto ouvir você dizendo que não gostava de carinho, não tinha nascido pra isso, mas no fundo eu sempre soube que você gostava sim. E me abraçava tão forte, como ninguém até hoje conseguiu. Queria tanto ver seu sorriso de novo. Sua felicidade era contagiante, pra você não existia tempo ruim. Lembro das festas em família, quando o pessoal ia acordando aos poucos e você fazia questão de tomar café com cada um que sentasse à mesa. Sempre rindo de tudo. Era impossível não gostar de você.    
Eu sinto tanto sua falta. Todo mundo sente. Qualquer um que você conseguiu tocar o coração lamentou sua perda. E eu só quero dizer que ta sendo difícil de suportar. Já faz três anos e eu ainda não me conformei. Por que foi embora assim? Tão rápido que nem deu tempo pra entender o que estava acontecendo. Tão lento que dói em mim ate hoje. Eu me lembro de cada segundo. Segundo que parecia uma eternidade. Tudo parecia mais devagar e você foi embora. Lembro dos minutos de felicidade que antecederam e o desespero que se seguiu. Estava se despedindo? Eu só queria falar como dói lembrar de tudo isso. Não existe palavra que descreva. É uma saudade que não cabe mais no peito e transborda pelos olhos. Quando você foi, levou contigo uma parte de mim. É por isso que nada mais fica completo. Sempre falta alguma coisa. Sempre falta você.
Apesar de tudo, adoro de verdade quando vem me visitar em sonhos, sempre me lembrando que a vida continua independente do que tenha acontecido. Três anos que você voltou ao seu lugar de anjo ao lado de Deus. Agora possui asas. E ainda é possível sentir sua presença todas as manhãs, como se você ainda fizesse questão de sentar-se a mesa com cada membro da família, para tomar seu velho café e contagiar a todos com sua alegria.
Saudades.

Do seu jardim aqui na terra, que ficou mais triste sem você, Margarida.